Arquetipos e Imagens Universais

E a tarde na foto desbotou. Virou verão de janelas abertas e cheiro de lençol secando ao sol. Guarda-roupas mudam de tom. Cadeiras abraçam em novos formatos. Lembranças são tais que quebram e conquistam.

domingo, 29 de agosto de 2010

Preenchida

Poema



Na maior sala do mundo
coberta inteiramente de palavras
decorada apenas por frases
de janelas cerradas por sentenças
Tão enorme e finita de letras
e virgulas cruas,

Verbos envelhecidos
que habitavam nobres bocas
refugiam-se em cantos
congestionados por páginas
rasgadas.

Onde títulos sobem as
vigas, notas balbuciam sozinhas,
rascunhos choram com fome
enquanto exclamações aranham
as paredes.

Vocábulos gargalham idiotas
enquanto órfãos ditongos
brincam fingindo não esquecer.

Guardados enlouquecidos
no desejo punhal pela fuga
aonde ninguém pode entrar
não sonham mais em sair.



terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cronos

Poema


E então os dias alcançam o calendário,

dezembro, novembro e súbitos marços.

Flores vestidas de tardes douradas,

cortinas de estrelas sobre janelas abertas,

caixas guardadas esperando

festas de quintal.

Voz do José que partiu presa nas

velhas fotografias.


Antes falava do invisível,

hoje apenas recomendo cartas

em linhas escritas de coisas

convencionadas.

Ontens embaraçosos

de bobagens testadas.


Talvez amanhã jogue

fora meus pincéis e tintas.

Talvez amanhã não sinta saudades.

Bem-vindo alívio de páginas arrancadas.


Quisera semana passada ter

recomeçado minha vida.

Agora estou atrasada.




quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Amálgama

Poema



Caixa de carne carrega
concentrado universo
Pedaços estranhos,
sentimentos velados
transformados de
vozes e vazio.

Presença efêmera pelo
ar exalado a cada
confirmação de que
não sabemos. Ecos
intensos e tão
mortos quão
um dia seremos.

Terríveis lembranças,
música contínua de
um futuro irresistível.

Queimam na chama
consumidos sem
nunca, em sua maioria,
utilizar todo o potencial
da flama.


domingo, 1 de agosto de 2010

Moinhos de Ventos

Mini Crônica


Imagine que somos heróis e tolos ao mesmo tempo. Podemos recolher uma alma perdida, um estranho na rua, mas não conseguimos dizer obrigado a um irmão; nossa mãe. Oferecemos prêmios, mas falamos metáforas para sentar-nos a mesa do jantar.

Basta de correr atrás da compreensão do hermetismo absurdo de um estúpido dia-a-dia. Por que fazer concessões, por que contemporizar se isso só fortalece os tolos e enfraquece a razão. O óbvio não existe mais. Morreu sufocado pela dissimulação formalizada.

Quero dizer que não entendo. Chega de dizer que é normal. É a anormalidade do interesse egoísta da multiplicidade enjoada de universos individualistas. Desprezar o fraco por uma submissão exigida. Ordenar um entendimento que não se deseja. Querer sem precisar, salvar sem se importar é o ar a construir moinhos.

07.abril.2004