Arquetipos e Imagens Universais

E a tarde na foto desbotou. Virou verão de janelas abertas e cheiro de lençol secando ao sol. Guarda-roupas mudam de tom. Cadeiras abraçam em novos formatos. Lembranças são tais que quebram e conquistam.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Elétrica Chama











Arde em máquina que bombeia
O meu espírito em chamas.
Queima as paredes de labiríntico
Mecanismo a eletricidade
De todas as minhas palavras.

Forças titânicas que
Insistem em me consumir.
Máquinas poderosas eternamente
Rasgando-me em dois.
E para sempre, até o fim, estarei eu
Domando-as para me compor.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Prestiosae Amicus


Conheci Antônia em Roma
há muitos anos atrás.
Gostava de andar pelas
ruas calçadas de pedras
e contar histórias de objetos.

Sabia daquela estátua,
da persiana da Gália
e do artesanato da Macedônia.
Do navio no porto de Óstia
com riquezas da Trácia.

As eras trouxeram-na
de volta e conversamos outra vez.
Para ela é sempre olá,
Nunca talvez.
Feliz Antônia,
Viva você.

Em 13 junho 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Delatora Tinta

'Refugiam-se da vítima tinta que insiste em delatar devaneios.'


Quem busca um refúgio longe da delatora tinta, pobre vítima insistente?  O pensar.  A tinta é vítima de uma urgência que vem além da sua flexibilidade. O coração quer entender, precisa e exige. Torturador torturado pressiona a tinta pelos segredos que os pensamentos recusam-se a revelar.  À tinta permite a dor apenas devaneios.

Em devaneios a tinta vai mergulhando o coração na tortura, enquanto os pensamentos se escondem cada vez mais inacessíveis.  Não sabem que a alma deseja apenas voar.  



08 maio 2012 - 17h09

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Anjo


                                                       'Anjo', 
                                      Óleo sobre tela, 50x70 cm 
                                                   Agosto 2011

Minha irmã caçula me deu uma tela em branco e pediu-me para pintar um anjo. Esse foi o anjo que surgiu.  Badida Campos - amiga, artista plástica e mestra - deu à pintura um poema do grande Quintana. Casamento perfeito! Ah...! A pintura não possui essa moldura branca. (^_~)


O Anjo da Escada 

Mario Quintana

Na volta da escada
Na volta escura da escada.
O Anjo disse o meu nome.
E o meu nome varou de lado a lado o meu peito.
E vinha um rumor distante de vozes clamando
clamando...

Deixa-me!
Que tenho a ver com as tuas naus perdidas?
Deixa-me sozinho com os meus pássaros...
com os meus caminhos...
com as minhas nuvens...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Para Pedro

Segunda-feira, 19 de março de 2012 



Peregrino descalço, buscador
dos enigmas  encerrados nas nuvens
coleta nos bolsos invisíveis canções
de sereias, risadas de crianças,
conversas de amigos e palavras recém-nascidas.

Movimenta-se constantemente numa velocidade
esquecida pelos homens,  em um ritmo tão secreto
que  a urgência da alvorada apenas as cores
conhecem.

Muito bem! Aí está! Eis que fui eu
e não sou mais, dizem suas mãos
quando conta os tesouros que
colecionou.

Todas as horas são suas favoritas,
mas o amanhecer é o único que conta
sua história preferida.

Bom dia, eu disse a ele. Esta é a sua
poesia. Guarde-a nos seus bolsos invisíveis.
E fui embora com o vento.

0h37
20 março de 12
Terça-feira


segunda-feira, 12 de março de 2012

64

São quinze fotos tiradas entre 12h03 e 13h07 do dia 13 de dezembro de 2009. O título dado a este conjunto de fotos, 64, remete ao intervalo de sessenta e quatro minutos entre a primeira e última foto.

São fotos de um passeio dominical no bairro do Recife e no bairro de Santo Antônio, ambos são bairros do centro da cidade do Recife e ambos localizados em ilhas próximas ao litoral.  O passeio não buscou um registro específico de marcos identificadores, familiares ou imediatamente reconhecíveis da cidade. 

As imagens registram aspectos urbanos que são comuns a muitas cidades brasileiras que vão desde detalhes de edificações, personagens urbanas e objetos de uso comum.  

O estudo imagético tenta suscitar a reflexão das diferenças e semelhanças entre os centros urbanos do Brasil. Somos tão diferentes assim? O que nos faz igual? O que nos diferencia? Que retalhos de memórias nos identificam com este ou aquele lugar?

Todas as fotos na linha do tempo foram tiradas por mim.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Não é capim


Foto tirada por mim em 28 de janeiro de 2012, sábado.


Em um daqueles dias
em que meia manhã já partia
Num sábado meio embrulhado
por um laço de teimosia
a máquina caiu subjugada
por um conjunto perfeito
de luz e cor em harmonia.

Uma tarde tão preciosa
que só andando devagar
para este instante
sempre continuar.
Um impossível encontro
entre é, foi e será.

Delicado e exato
anônimo e indiferente
aos beijos que o Sol
lhe dava estava ele
rosáceo bem no meio do jardim.
Tão belo que estava
que a louca lhe rodeava
silenciosa e constante
capturando-o para sempre
em uma fotografia.

A imagem viajou, foi para
Longe, voltou, aterrissou
Trazia em umas linhas
um elogio torto
seguido de exclamação
‘que belo esse capim’.
A esse senhor meio absorto
Era devida de ato
uma explicação.

Nasce de um bulbo delicado
em poucos dias por ano
temperamental e sedento
aquele lírio perfeito.
As folhas finas e esguias
quando a flor se esconde
não são marcas
de planta qualquer.
Olhar mais calmo permite
que se veja o que
realmente é.

Desculpas são emitidas
para a flor nem de leve
ofendida
tão mesma que ela é.
E então assim
explicado foi
Que o lírio não é capim.