Arquetipos e Imagens Universais

E a tarde na foto desbotou. Virou verão de janelas abertas e cheiro de lençol secando ao sol. Guarda-roupas mudam de tom. Cadeiras abraçam em novos formatos. Lembranças são tais que quebram e conquistam.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Permanecendo

Letra para uma música




O que me parte o coração
não é a ida, o ir embora
a saudade, a solidão.
É saber que jamais retorna
o sorriso, os gestos, a paixão.
De despedida a vida é cheia,
mas o que vão retornarão.
Na última ida, a definitiva
prefiro ir primeiro
que ficar na escuridão.


05.junho.2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Frase poema



Venha depressa! Pensei lentidão, porém há rosas falecidas.


15 abril 2004

domingo, 18 de julho de 2010

Para nunca saber

Micro conto



- Vermelho?, perguntou-me certa vez. - Não, respondi sorrindo.
- Verde como as folhas das samambaias?, insistiu. Decidi continuar o mistério.
- Azul como o céu nesta tarde?, olhou-me curioso outro dia. Rí com vontade e sacudi a cabeça.

E assim recebia lenços, flores, anéis de belas e inusitadas cores. Se depender de mim nunca saberá a cor que acelera meu coração e deixa leve minha alma. Quero que eternamente adivinhe. Não há maneira mais deliciosa de saborear uma surpresa: um segredo meu para mim.


25 julho 2007

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Madalena e eu


Ofereceram-me pétalas para beber.

Conversaram comigo em silêncio

sentados em um banco da noite.


No mundo dos anjos

meus ossos quebram

No mundo dos homens ando

e meus cabelos tornam-se brancos.


Compro flores, respiro como

se tivesse oito anos.

Vozes de mulheres me contam

de Afrodite e amor divino

A noite parece permanente e

me faz pensar no Sol, nos anjos

e no seu segredo das rosas.


O sono conduz e a vida

pode começar outra vez.



terça-feira, 13 de julho de 2010

Sala de Espera




Mulheres com calças impossíveis desfilam de um lado para o outro. Calças Jeans que parecem ter dois números a menos deformam silhuetas espremendo gorduras para as laterais das cinturas que em conflito sufocam opressivas e imensas coxas. Estas se esforçam suportando espaçosos culotes desarticulados.

Espelhos minúsculos devem decorar as paredes das casas dessas modelos do desarranjo. Ah...a beleza interior...! Ainda bem por esta.

Esta minha acidez, perdoem-me, vem de 4 horas esperando em consultório médico. Impossível resistir ao belo às avessas.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Por que Neruda? Why Neruda?


O mestre responde:

The poet answers:







Português


Teu riso pertence a uma árvore entreaberta

por um raio, por um relâmpago prateado

que do céu tomba quebrando-se na copa,

partindo em duas a árvore com uma só espada.


Nas terras altas da folhagem com neve apenas

nasce um riso como o teu, bem-amante,

é o riso do ar desatado na altura,

costumes de araucária, bem-amada.


Cordilheirana minha, chillaneja evidente,

corta com as facas do teu riso a sombra,

a noite, a manhã, o mel do meio-dia,


E que saltem ao céu as aves da folhagem

quando como uma luz esbanjadora

rompe teu riso a árvore da vida.


Español (original)


Tu risa pertenece a um árbol entreabierto

por um rayo, por um relâmpago plateado

que desde El cielo cae quebrándose em La copa,

partiendo em dos El árbol com uma sola espada.


Solo em las tierras altas de follaje com nieve

nace uma risa como la tuya, bienamante,

es la risa del aíre desatado em la altura,

costumbres de araucária, beinamada.


Cordilerana mía, chillaneja evidente,

Corta con los cuchillos de tu risa la sombra,

la noche, la mañana, la miel del mediodía,


Y que salten al cielo las aves del follaje

cuando como una luz derrochadora

rompe tu risa el árbol de la vida.


English


Your laugh belongs to a tree fissured in two

by a lightning streak, by a silver bolt

that drops from the sky, splitting the poll,

slicing the tree with its sword.


A laugh like yours is born only in the snow

and the foliage of the highlands, my love

the air’s laugh that burts loose in the height,

Araucanian tradition, my dearest.


My mountain woman, my clear chillaneja,

slash your laughter through the shadows,

the night, morning, noon’s honey,


Birds of the foliage will leap in the air

when your laugh like an extravagant

light breaks the tree of life.


Cien Sonetos de Amor

Soneto/Sonnet LI

Pablo Neruda

sábado, 10 de julho de 2010

Margarida Muda


Querida Margarida do batom irrefutável,

Adorei seu corte de cabelo. Esse negro brilhante de curtas madeixas me deixa melancólica. Da minha cabeça os fios jogam-se fracos até os ombros. Uma moldura anônima largada pelas laterais de um rosto comum. Não sou mulher para os olhos, sou a voz dos ouvidos. Margaridas mudas ficam quando o tom marca o ritmo da moça. Fugazes melancolias somem sob a marca hipnótica de palavras projetadas. Ainda que careca derrubaria reis e controlaria nações.

05 abril 2010, segunda-feira, 19h50